Fazenda Mater reduz idade de abate em até 50% emprenhando novilhas mais cedo em Santa Rita do Pardo

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Divulgação:Fazenda Mater, em Santa Rita do Pardo-MS.

Da redação girodoboi

Na Fazenda Mater, propriedade localizada em Santa Rita do Pardo, no Mato Grosso do Sul, desafiar as novilhas à reprodução com 14 meses de idade significou uma série de melhorias no que diz respeito ao desfrute, incluindo a redução da idade ao abate. Por exemplo, os animais engordados na fazenda que antes eram terminados com 24 a 36 meses agora já são abatidos com 18 meses e 500 quilos de peso médio. A evolução deste trabalho foi contada em detalhes na entrevista com a zootecnista Rafaela Angelieri, gestora da Fazenda Mater, nesta segunda-feira, dia 04.

Rafaela recordou a história da propriedade, que está em sua família há meio século, desde quando seu avô materno, Narciso, chegou ao município de Santa Rita do Pardo quando a região ainda era conhecida como Xavantina, mero distrito de Brasilândia. As dificuldades, como a falta de recursos, de luz elétrica e a logística complicada, fez com que Narciso tentasse vender das terras, o que buscou ao longo de dois anos até que foi convencido pela sua esposa a desistir da ideia e apostar na propriedade como o futuro da família.

A fazenda subiu de patamar na produtividade quando o pai de Rafaela, Gerson, casou-se com sua mãe e passou, então, a tocar a parte técnica – formação de pastagens, melhoramento genético, etc. -, ao passo que Narciso seguiu na gestão. E ainda passou por mais um salto de profissionalismo quando, já formada em zootecnia no ano de 2016, Rafaela apresentou ao seu pai uma carta-proposta para que pudesse colaborar na administração da propriedade.

“Eu escrevi uma carta-proposta para o seo Gerson. A gente já tinha estação de monta, mas eu propus organizar a estação, organizar a época de parição e colocava o porquê de cada coisa. É importante você organizar a estação de monta porque você vai estar enfocando a época de parição e está tudo interligado. A pecuária é tão ligada em ciclos que se você não tem estação de monta correta, a sua parição vai ser no tarde, sua desmama vai ser tarde e seu gado vai ser abatido tarde. Então eu fiz esta carta-proposta com organização da estação de monta e foco na parição e desmama”, recordou Rafaela.

De acordo com a zootecnista, mais do que os reflexos nos índices de prenhez, o trabalho desenvolvido surtiu efeitos em outros dados que impactam a produtividade da fazenda. “Antes de a gente emprenhar as novilhas aos 14 meses, a gente abatia novilhos Nelore de dois a três anos, com até 36 meses. Agora a gente está abatendo novilhos de 18 meses com 500 quilos. Nós percebemos que, se podíamos desafiar as fêmeas, podíamos fazer também com os machos”, revelou.

Entretanto, não apenas o manejo reprodutivo foi suficiente para que a fazenda elevasse seus resultados. Rafaela comentou a importância de associar a organização da monta com o manejo nutricional. A gente investiu nesses machos desde a desmama, com creep feeding… O protocolo nutricional é um ponto-chave. Tem que ter um manejo de pastagem muito grande, muito preciso, mas não é só o pasto. Você tem que dar um aporte de suplemento alimentar para esse animal”, sustentou.

Rafaela revelou quais são patamares de resultados esperados pela fazenda atualmente. “Para essa safra que a gente está terminando agora, de 2020/21, a gente está esperando chegar em 88% de prenhez para as matrizes (multíparas). As precocinhas, novilhotas, em 72%, e as primíparas em 78%. Então temos metas a alcançar”, estabeleceu.

Para continuar evoluindo, a propriedade segue disposta a usar ferramentas já disponíveis como também aposta em novas tecnologias, como foi o caso de um estudo que utilizou suplementação em bloco, reforçando a fertilidade das matrizes do plantel, caso recentemente apresentado no Giro do Boi (relembre no link abaixo).Fazenda usa estratégia nutricional para buscar quase 80% de prenhez em primíparas

“É importante você estar aberto à pesquisa. […] A gente teve um trabalho em 2018 com as novilhas, que emprenharam a partir dos 24 meses e pariram com até 36 […]. Foi um trabalho de mestrado da Bruna Catussi. Agora essas novilhas são as novilhotas que estão entrando na estação de monta com 14 meses”, informou.

A zootecnista destacou que o desafio vai além de emprenhar novilhas, mas fazer com que, já primíparas, elas tenham capacidade de reconceber, momento em que a suplementação faz a diferença. “São duas categorias distintas que a gente tem que ter muita atenção porque elas estão se desenvolvendo e você quer que ela reconceba. O desafio está aí. O desafio não é você fazer a matriz emprenhar, mas fazer ela reconceber”, frisou.

Suplementação em bloco foi uma das estratégias de manejo nutricional para conseguir aumento dos índices de prenhez em novilhas e primíparas.

Rafaela comentou ainda a importância do trabalho voltado ao bem-estar com os animais da Fazenda Mater. “A gente está tentando novas técnicas. A gente segue o trabalho da Temple (Grandin) com os mangueiros anti-estresse, que são em curvas, seguia a questão do manejo com a bandeira… Agora tem uma nova técnica, que é só como o olho (veja no link abaixo), proposta pelo programa Criando Conexões, em que você não precisa nem mudar o mangueiro. Tem até a Bud Box, tecnologia que saiu como destaque em revistas de pecuária. Então a gente está cada vez mais se tecnificando, o que é importante. […] Nós temos que respeitar o animal porque um dia ele vai nos servir. É uma frase da Temple Grandin”, ressaltou.

“Isso reflete tanto no índice de prenhez, no que diz respeito às femeas, como também no abate, na questão de você não ter lesões na carcaça na hora do abate, como também o ph correto. Isso tudo está correlacionado”, confirmou.

Além da dedicação de toda a família na evolução do sistema produtivo e dos resultados da Fazenda Mater, a propriedade conta com uma bênção que vem dos céus. Desde 2002 a fazenda tem dentro de sua porteira uma igreja, batizada de Mater Dei, que na tradução do latim para o português significa “mãe de Deus”. “A igreja chama Mater Dei. Ela tem o Santíssimo. Nossa família é muito católica, os meus avós são Oblatos Redentoristas e nós conseguimos, em 2002, a autorização do Bispo Emérito de Três Lagoas, Dom Izidoro Kosinski (falecido em 2017), de poder ter o Santíssimo. […] É uma igreja que nós temos muito orgulho dela, afinal Deus sem nós é Deus, mas nós, sem Deus, não somos nada”, declarou.

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