Pastel de jacaré, erva menta fogo e 4 gerações de vendedores: Mercadão de Campo Grande faz 60 anos

Do fubá saboró ao biju de Rondonópolis. Da erva menta fogo ao burrito. Do morango cristalizado ao pé de moleque feito com semente de abóbora. Do exótico pastel de jacaré ao pastel com moqueca de jacaré.

Do bolinho de arroz à cordialidade no atendimento, encontrada diariamente, no Mercadão de Campo Grande. Quem trabalha lá, diz que o local, prestes a completar 60 anos, é um presente para moradores da cidade e turistas, com vendedores que passam “metade da vida” ali – e muitos já estão na 3ª e 4ª geração.

“Dos 47 anos de idade, há 42 estou aqui. A tradição é muito forte, não só na minha família, como de muitos por aqui. Vai de geração em geração. Eu era criança de colo e já circulava por aqui. Também tenho familiares trabalhando até hoje e muitos clientes se tornam amigos, dizendo que antes vinham com os pais e hoje já estão trazendo os filhos”, afirmou ao G1 o empresário e atual presidente do Mercadão Cleuber Linares.

Atual presidente do Mercadão diz que já passou 42 dos 47 anos de vida no local (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)

Vendedor de duas barracas há 5 anos, Renato Silva, de 27 anos, diz que deixou um emprego “mais tranquilo” para atuar no Mercadão.

“Aqui é um lugar maravilhoso. Eu ainda tenho o sonho de ser cozinheiro e, por isso, fico experimentando receitas, conhecendo os sabores de muita coisa que só tem aqui. Eu, por exemplo, faço sempre uma farofa de bacon, carne seca e banana da terra com a biju de rondonópolis, que é uma farofa aerada”, comentou.

Ingredientes para os paraguaios que vivem em MS

Ainda conforme Silva, o fubá saboró é o tipo para quem aprecia a sopa paraguaia. “Assim como os japoneses trouxeram o sobá, nós fornecemos ingredientes para os paraguaios que vivem aqui. No caso das ervas, é muito legal atender e explicar cada sabor. Esses dias, uma senhora de Fortaleza veio e eu fiz um tereré. Ela se apaixonou e levou cinco pacotes. O calor humano é grande e eu ainda brinco mostrando a erva menta fogo, que é a mesma coisa de chupar um “halls” preto e tomar água gelada junto”, disse.

Amigos dizem que, ao chegar na capital, já se hospedam em hotel perto do Mercadão em MS (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)
Os amigos Roanderson da Silva Queiroz, de 34 anos e Juliano da Rocha Muchão, de 39 anos, comentam que moram em Santa Rita do Pardo. No entanto, quando viajam para a capital morena, já se hospedam em um hotel perto do Mercadão. “Não tem como vir aqui e não passar neste local. Nós gostamos de comprar erva, costela e muitas iguarias que só o Mercadão oferece”, afirmaram.

Pastel de jacaré
Já Milton Caetano, de 51 anos, diz que já apostava no pastel de jacaré, quando o chefe Paulo Machado se tornou campeão da Batalha de Estrogonofe, do Fantástico, em 2018. “Eu já estava provando várias receitas aqui, do animal de cativeiro, quando ofereci e aqui estourou também. É um sabor delicioso e eu ofereço no lugar de um bife, por exemplo. Vai com arroz, feijão e purê de batata”, diz o empresário, que emprega 22 funcionários, entre 2 boxes e uma cozinha industrial no Mercadão.

Empresário de MS diz que pastel de jacaré ‘estourou’ e sabor é maravilhoso (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)
A jovem empresária Karolina Betoni Borges, de 24 anos, diz que a mãe é quem criou uma barraca fitness e hoje eles oferecem mais de 200 variedades de produtos. Destes, 70 são fabricados aqui. “Eu sou a 4ª geração. Vi sempre meus avós, tios e mãe circulando por aqui. Eles tentaram e deu super certo, nós amamos este lugar”, ressaltou.

Jovem diz que mãe criou barraca fitness no Mercadão, com mais de 200 produtos (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)
Outra empresária que também usou muito da criatividade é Akemi Deai. Aliás, não só ela como o marido, que acorda diariamente às 4h e segue para o Mercadão, com a intenção de oferecer o melhor produto aos clientes. “Nós criamos o bolinho de arroz, feito com arroz japonês e carne moída temperada e empanada com farinha de rosca. Além disso, tem o pastel de moqueca de jacaré e o de jacaré com catupiry e queijo. Passamos metade da nossa vida aqui e chegamos bem cedo para atender quem passa aqui, antes mesmo de ir para o trabalho”, disse.

O pecuarista Eduardo Olímpio Machado, de 66 anos, pai do chefe Paulo Machado, fala da tradição de ir ao mercadão. “Eu nasci em Campo Grande e depois morei muito tempo fora do país. Em seguida, voltei e a cada 20 dias venho aqui, pra comer pastel de queijo com garapa, limão e gelo. Não tem nada melhor do que ver aquela fumacinha saindo ao morder o pastel. É um local que a cidade toda prestigia, cheio de hortaliças e produtos regionais”, garantiu.

Tradição de pai para filho, pecuarista fala sobre prazer em visitar mercadão para comer pastel com garapa (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)