Enfraquecimento do JBS abre espaço para concorrência

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Abates aumentaram 6% em Mato Grosso do Sul, no período de janeiro a julho - Foto: Arquivo Correio do Estado

Correio do Estado

Passada a “ressaca” dos últimos três anos sobre a cadeia da carne brasileira – puxada principalmente pelo enfraquecimento do monopólio do grupo JBS em MS, que hoje detém 41% do mercado frigorífico estadual, após os efeitos da Operação Carne Fraca e escândalos de propinas –, a expectativa da cadeia produtiva da pecuária, que já elevou em 6% as operações neste ano, é de aumente ainda mais o processamento de carnes nesta reta final de 2018.

O setor aposta na consolidação da capacidade nas unidades já instaladas e no tradicional aumento de consumo do fim de ano. A expectativa é de que o volume total de abates mensais em Mato Grosso do Sul tenha acréscimo de 10% no último trimestre, de acordo com projeção repassada pela Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne (Assocarnes-MS), entidade que representa cerca de 30 frigoríficos do Estado.

“É um índice muito significativo. Estamos falando de um Estado que abate, em média, 280 mil cabeças de gado/mês”, destaca João Alberto Dias, presidente da entidade. Essa projeção, segundo ele, tem como motivo o comportamento da própria cadeia da carne, que se mantém estável, assim como as exportações do produto, apesar do momento de eleições.

“Como é ano eleitoral, atípico, vivemos um momento de incertezas do ponto de vista de investimentos. Mas o mercado de carne se mantém estável. Ao longo de 2015, 2016 e 2017, tivemos embargos e suspensões de operações e, neste ano, o mercado teve uma retomada, não com velocidade, mas dentro de uma normalidade sustentável, conseguimos manter um padrão”, pontuou.

ABATES

Dados do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), do Serviço de Inspeção Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), apontam crescimento de 6% no abate de bovinos em Mato Grosso do Sul, considerando o período de janeiro a julho. Nesses sete meses, as 31 unidades em funcionamento no Estado abateram 1,947 milhão de animais, frente a 1,837 milhão no mesmo intervalo de 2017.

Com seis plantas atualmente em atividade – a sétima, em Cassilândia, encerrou operações no primeiro semestre – , o grupo JBS abateu 814.014 animais, sendo responsável por 41,79% do total de abates no ano, porém, perdeu participação em relação ao ano passado, quando esse porcentual era de 47,91% e o total de animais abatidos foi de 880.308 cabeças.

Em relação ao Marfrig, os dois frigoríficos do grupo processaram 333.443 cabeças de janeiro a julho deste ano, quantidade 72,60% superior à do mesmo período de 2017, pouco antes de entrar em operação a segunda planta frigorífica do grupo, em Paranaíba (a outra está situada em Bataguassu). Com este resultado, o grupo detém 17,11% da participação nos abates estaduais.

PLANTAS

Em contrapartida, afirma o presidente da Assocarnes, as unidades que tinham previsão para reabertura no segundo semestre ainda não se efetivaram. “Aquelas com processo de ampliação e readequação ainda estão aguardando investimento, em razão principalmente do cenário da economia, que está instável”, avalia.

Nesse ano, segundo dados da Assocarnes, entraram em operação ou retomaram funcionamento as unidades de Nioaque — esta, sob inspeção federal e capacidade instalada para 600 cabeças/dia, saltou de 618 abates, em junho, para 7.368, em julho — e Santa Rita do Pardo, com capacidade instalada para média de 200 a 250 cabeças/dia, mas iniciando com 100 animais/dia. Embora já licenciadas, as unidades de Maracaju e Chapadão do Sul (esta, com SIF exportação) ainda não iniciaram operações, devendo entrar no mercado estadual em 2019.

Já em relação aos grandes grupos empresariais, pontuou, o mercado de carnes de Mato Grosso do Sul está consolidado entre JBS e Marfrig, mas o Natura Frig também tem sua participação, com duas unidades. O presidente da Assocarnes cita ainda exemplos de plantas que vêm operando com grande regularidade, como o frigorífico de Juti, também de exportação e com capacidade para abater de 500 a 600 cabeças/dia, e o de São Gabriel do Oeste.

PERSPECTIVAS

Segundo João Alberto Dias, a expectativa é que com a proximidade do último trimestre do ano, as vendas aumentem por conta da melhora no consumo da carne. Além disso, neste ano há outro fator positivo, a perspectiva de melhora na produção em função das condições do clima. “Neste ano, tivemos uma estiagem mais fraca em relação a anos anteriores. Teremos, assim, um fim de ano com oferta boa de animais”, pontuou.

O dirigente da Assocarnes também enfatiza que os abates têm que ser mantidos dentro de um volume razoável, dentro da capacidade do frigorífico e com a proximidade do fim do ano, é quando o frigorífico vende com força, com agregação de preço e qualidade.

“Nos anos anteriores, tivemos problemas de clima, de operações, de embargos, enfim uma série de situações que atrapalharam o mercado da carne e a sua retomada”, pontuou.Ainda conforme Dias, será preciso aguardar o fechamento do volume de abates do mês de agosto por parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para ter um cenário mais claro.

“É uma commodity que a todo momento está oscilando e o cenário de incerteza política contribui para isso. Mas acreditamos que na primeira quinzena de outubro, passado o primeiro turno das eleições, teremos um cenário mais claro da economia e de como ficam os investimentos”, comentou.

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